A RELAÇÃO DO FLAMENGO COM O POVO

Sofia de Luna
3 min readNov 6, 2022

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O Flamengo nasceu em 15 de novembro de 1895, formado por um grupo de jovens que aspiravam entrar para as competições de um esporte popular no Rio de Janeiro: o remo. Nas águas frias cariocas, o clube foi batizado como Grupo de Regatas do Flamengo e só em 1902, o grupo renasceu em Clube de Regatas do Flamengo, pelo que é conhecido até hoje. Pouco tempo depois, surgiu o departamento de futebol e os fanáticos torcedores do remo puderam gritar em plenos pulmões "terra à vista!" e passaram a acompanhar além dos campeonatos náuticos.

A questão é: como um clube nascido na passagem do século XIX para o século XX, como tantos outros, se tornou o mais popular ao nível estadual e nacional. Sendo agitador das grandes massas e estatisticamente a maior torcida de futebol brasileira.

A doutora Marizabel Kowaski tenta responder essa incógnita em sua tese “Por que o Flamengo?”, colocando o time brasileiro como uma tradição inventada por jornalista, cronistas, poetas, músicos, torcedores ou não, ativistas e simpatizantes. Como para Gilberto Cardoso “Ser Flamengo é um estado de alma”; no Álbum Rubro-Negro, 1952 "O Flamengo não
para porque o Flamengo é uma força em marcha. Seu destino é a eternidade"; parafraseando Nelson Rodrigues "Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia". Também na voz de Tim Maia, em sua canção Flamengo, Seu Jorge que é Flamengo e tem uma nega chamada Tereza e Gilberto Gil que manda um alô para a torcida do Flamengo. Na literatura, música e na voz do povo, o ditado popular "eu, você e a torcida do Flamengo". O pensar, agir e torcer traduz a expressiva condição de pertencimento ao grupo.

O time do povo, de cores Rubro-Negro, só teve estádio próprio em 1938 com a inauguração do Estádio da Gávea, hoje conhecido como Estádio José Bastos Padilha, favorecendo a ligação entre torcedores e ídolos que sempre caminhavam lado a lado. Juntamente a isso, na Era Vargas, a Rádio Nacional amplamente divulgava os jogos dos clubes cariocas, favorecendo o Rubro-Negro que quebrava a dominação do Botafogo e Fluminense na época. Tornando-se dono da alcunha "o mais querido do Brasil". Essa popularização não se deu de maneira inconteste, e em um afã de desmerecer o Mengão, termos pejorativos como "Urubuzada" , de conotação racista pela coloração do animal, "Mulambada" e "Festa na Favela", foram usados para tentar diminuir suas conquistas, constranger e humilhar seus torcedores. O resultado disso? Os flamenguistas Luiz Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade, fartos de escutarem os gritos de "Urubu" vindos das torcidas adversárias, pegaram um Urubu no lixão do Caju e o levaram para o duelo entre Flamengo e Botafogo, soltando o animal no Maracanã. Trazendo sorte, o mais querido venceu o Botafogo por 2 a 1 e os gritos de "Urubu" passaram a vir da torcida do Flamengo. Hoje é o mascote do clube, carinhosamente apelidado de 'Urubão’, tornou-se amuleto. A torcida bate no peito ser Mulamba e Festa na Favela virou motivo de festejo nos cânticos da torcida, onde é expressão de orgulho.

Sendo o futebol uma expressão política e popular, romântica e poética, a formação de uma identidade e a reafirmação do sujeito, nos traz a clareza do porque um time com tanto apelo social possui essa grande identificação nacional. A ressignificação das tentativas de aniquilação e a resistência dos flamenguistas reiteram o porque o Flamengo é o time do povo.

“Há no Flamengo esta predestinação para ser, em
certos momentos, uma válvula de escape às nossas tristezas. (...) Ele não nos enche a barriga,

mas nos inunda a alma de um vigor de prodígio.”

(José Lins do Rego. O Globo, 5.2.1955)

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Sofia de Luna

Cabelo preto, bilionária, atriz consolidada, modelo e trazendo orgulho para família desde criança. Essa é a Megan Fox, eu sou a Sofia.