Robinho e o simbólico por trás de sua contratação.

Sofia de Luna
5 min readOct 16, 2020

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Robinho, condenado por estuprar uma mulher albanesa em um estupro coletivo. Imagem: Ivan Storti/Santos FC

Robson de Souza (Robinho) foi condenado a 9 anos de cadeia por estupro na Itália. O crime teria acontecido em 22 de janeiro de 2013, quando Robinho e outros cinco homens estupraram uma mulher albanesa em uma festa. A condenação se deu em 2017 quando o atacante ainda era jogador do Atlético Mineiro e não teve seu contrato renovado após manifestações da torcida do Galo. Fez passagem no futebol turco e retorna aos gramados brasileiros esse sábado, após o Santos anunciar sua contração, ignorando as problemáticas extracampo.

Técnico Cuca, condenado na Suiça por estuprar uma criança de 13 anos. Reprodução/Twitter

O técnico e ex-jogador do Santos, Alexi Stival (conhecido como Cuca), saiu em defesa do jogador: “Uma pessoa maravilhosa”. Fato curioso é que Cuca foi condenado na década de 80 por estuprar uma criança de 13 anos.

Wescley, do Ceará acusado de violentar namorada grávida. Foto: Cearasc.com/Divulgação

Não são casos isolados, o Brasileirão pode montar um time só com acusados e condenados de violência contra mulheres. Wescley, meio-campista do Ceará foi acusado em 2016 por agredir a namorada grávida de 3 meses.

Wesley do Bragantino, sentenciado por violentar sua namorada em 2019. Foto: Ari Ferreira/Bragantino

Westey Piontek, do Bragantino, foi sentenciado em 2019 por lesões corporais graves e ameças a até então namorada. O jogador cumpre regime aberto enquanto joga a Série A do Brasileirão, a liga mais importante do país.

Goleiro Jean, preso em flagrante nos Estados Unidos por agressão a ex-mulher. Reprodução/Twitter

De reserva do São Paulo a titular do Atlético Goianiense: o goleiro Jean foi preso em março desse ano em flagrante nos Estados Unidos por agressão a ex-mulher. Na ocasião, a mulher cujo nome deve ser preservado, teve coragem de expor as agressões sofridas, além de revelar posteriormente que o jogador não paga a pensão alimentícia.

É preciso nomear e dar corpo. Colocar agressões feitas por homens no campo do indizível contribui para regulamentar a estrutura social que subjuga as mulheres. Entre eles: Bruno, Dudu, Cristiano Ronaldo, etc. É importante enunciar autores e crimes, mas o campo jurídico não se atém a todos os pormenores, se dirigir ao estupro reduzindo a esse âmbito torna a discussão enrijecida, há uma série de questões que não são articuladas. A mensagem cifrada que passa para o social quando um homem condenado por estupro retorna ao clube que o revelou e volta a posição de ídolo é uma delas. Esse é um tocante interessante quando pensamos que o estupro não é só resultado de uma mente perversa, também é, mas há casos onde o autor se coloca em uma posição de herói. É o que revela a pesquisa Prenky e Vernon ed., “Human Sexual Aggression: Current Perspectives”, “Annals of the New York Academy of Sciences”, 1998 (Agressão Sexual Humana: Perspectivas Atuais, Anais da Academia de Ciências de Nova York) onde 25% dos estupradores eram presos porque, após o estupro, tentavam se relacionar sentimentalmente com as vítimas. Cito o psicanalista Contardo Calligaris: “Antes de ser violentos, são idiotas e convencidos de seu extraordinário poder de seduzir uma mulher, inclusive à força –”à força”, no caso, significa, contra as resistências que ela mostra e das quais ela será grata de ser liberada.” Esses homens não reconhecem o estupro por estupro, quando há delação e se descola ao público, a angústia se detém ao social: O que os outros vão pensar? É um sofrimento pela regressão a moral e não pela invasão ao corpo da mulher. Desmascarando uma problemática outra: se a sociedade finge que não vê, onde o sujeito vai se situar?

A mulher sofre duas violências: o crime e a omissão. Há a culpabilização da vítima e a normalização do comportamento sexual violento do homem. Como consequência da naturalização destes atos, a estimulação de outros.

O ódio para com as mulheres está instaurado no imaginário coletivo. Afinal, a primeira mulher grega abriu a caixa proibida e trouxe os males para o mundo, Pandora. Por outro lado, Eva trouxe o pecado e em virtude deste até o filho de Deus teve que morrer. Conforme Gênesis 3:16, “E à mulher, (Deus) disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.” É preciso enxergar além do que se mostra, mas o que está inscrito. Pouco parece importar o sofrimento de uma mulher para que o Santos vença do Coritiba amanhã, ainda que perca. O atacante de 36 anos, reserva na Turquia, ocupa uma posição de ídolo e traz uma identificação que é perigosa em seu sentido amplo. Que mensagem o Santos transmite ao contratar um estuprador confesso? Os efeitos dessas negligências estão nas estatísticas. Dados apontam que, no Brasil, a cada 2 minutos uma mulher é agredida, segundo o Monitor da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Período de Isolamento Social, do Instituto de Segurança Pública (ISP) e a cada 11 minutos estuprada, de acordo com a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANDEP). Podendo as agravar se considerar que o último é a forma de violência mais subnotificada do país (NUNES, 2016). O estupro se torna indizível, é encoberto pelo peso tanto do campo de quem agride para quem sofre a agressão, trazendo a falsa sensação de distância e casos isolados, contudo as estatísticas apontam na direção contrária. A sociedade precisa se responsabilizar, o feminino é repositório de ódio e é preciso tirá-lo desse lugar.

O site médium computa que uma pessoa leva em média 5 minutos para a leitura desse texto. 2 mulheres já foram violentadas.

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Sofia de Luna

Cabelo preto, bilionária, atriz consolidada, modelo e trazendo orgulho para família desde criança. Essa é a Megan Fox, eu sou a Sofia.